Naluísa está com problemas
técnicos.
Fica procurando o sinal do
satélite durante alguns bons minutos por dia. Às vezes horas.
Alguns chamam de birra,
outros de manha e outros de problemas psicológicos de cunho gravíssimo. Há quem
diga ser a crise existencial dos 3 anos. Terrible three? O médico credita isso
tudo ao tal do terror noturno - quando de
noite- porque de dia ele não tem a mais vaga ideia do que possa ser.
Uma crise hitckockiana que
bota todo mundo de cabelo em pé. Eu morro de pena, mesmo sabendo que a culpa é minha. Que foi? Sou mãe não sou? Então a culpa é invariavelmente minha e ponto.
Sem motivo aparente, sem ser
contrariada, sem se frustrar; do nada absoluto algum gatilho é acionado em seu
mundinho interior que faz a crise disparar.
Ela entra numa espécie de transe. Começa com um crescente irritação até atingir o ápice e fica cerca de 1 hora gritando, se jogando no chão, se machucando, se
batendo e batendo em quem está perto. Ela não me reconhece, demodusque ela olha pra mim e pede pra eu chamar a mãe dela. Uma coisa
muto loca, tipo uma crise mal sucedida de um LSD que não caiu bem (ACHO).
Tenho dó, tenho raiva. Por que
com ela? Por que comigo? Tenho ódio do mundo, do síndico, do Barack Obama, da Carla Bruni por me largarem sozinha num momento como esse, embora muitas vezes
eu não esteja sozinha, mas acho que to. Atitude imatura irracional e sonolenta
da minha parte, confesso.
Isto posto, me propus a
investigar a fundo essa coisa toda. Como? Marcando consultas em médicos, psicólogos, e pais de santo.
Minha santa mãe se propôs a levá-la em um homeopata novo. O nonagésimo terceiro que ela já foi, acho. A dinda, que anda meio impressionada, por via das dúvidas invoca os orixás da menina todos os dias. E eu to fazendo o que posso, entre o acordar, ir trabalhar e voltar pra casa, tenho consultado quatrocentos psicólogas por dia e uma delas sugeriu que eu trocasse ela de escola, já que o bilinguismo pode ser um fator estressor pruma titica dessas. Uma escola que além de militaresca, falam inglês o tempo todo. Faz sentido, nã? Deve dar um baita nó na teia neural de uma criaturinha de nem 3 anos, vide o “mom, don't chora. Teardrops são salgadas” Embora eu tenha crises de riso com isso, é grave minha gente!
Minha santa mãe se propôs a levá-la em um homeopata novo. O nonagésimo terceiro que ela já foi, acho. A dinda, que anda meio impressionada, por via das dúvidas invoca os orixás da menina todos os dias. E eu to fazendo o que posso, entre o acordar, ir trabalhar e voltar pra casa, tenho consultado quatrocentos psicólogas por dia e uma delas sugeriu que eu trocasse ela de escola, já que o bilinguismo pode ser um fator estressor pruma titica dessas. Uma escola que além de militaresca, falam inglês o tempo todo. Faz sentido, nã? Deve dar um baita nó na teia neural de uma criaturinha de nem 3 anos, vide o “mom, don't chora. Teardrops são salgadas” Embora eu tenha crises de riso com isso, é grave minha gente!
E onde em toda essa minha
vida- moderninha- deixar- minha menininha- sair- sozinha eu iria enfiar ela? Onde
onde onde meldels?
Numa escola paz e amor, claro. Também conhecida como educação
antroposófica ou ainda pedagogia Waldorf. Comigo não tem meio termo, não. Soy otcho
o oitchenta.
E apesar de eu ser totalmente
contra essas coisas ecologicamente corretas, como por exemplo lagartas que
viram borboletas, além de ser muito fã do cimento e levantar a bandeira do agrotóxico, estou empenhada em incutir pouco a pouco essa magnífica hippie/chic/ ecoideia na cabecinha dela, porque dizem os junguianos do mato que crianças devem crescer livres,
pimponas, corajosas, amigas de jubartes, e sem carregar os traumas e nojos que são da mãe (né mãe? Valeu pela herança lagártica)
Então, pelo bem dela, finjo que natureza é saudável e começo o discurso:
-Filha! Você vai comer fruta na árvore! Se sujar de lama! Levar advertências ao som de bandolins! Vai bordar
camisetinhas para crianças carentes quando for pro antigo time out, onde as teardrops
não eram reaproveitáveis. Agora vai aprender a escoar suas lágrimas e direcionar
para o recipiente dessalinizador, donde surgira água potável para posterior
consumo próprio! Vídeos do Rio +20 entarão no lugar de Lazytown e você construirá cabanas
com os tijolos de adobe com sistemas hidráulicos de arrefecimento por luz lunar e com ventiladores eólicos feitos por você e por sua comunidade, digo, classe. Incredible não?
Ela não se convenceu muito
ainda, mas estou trabalhando pra isso, e me disse que quem come fruta na árvore é papagaio.
Mas eu to apostando. To com
fé, to sustentável.
A única coisa que mais me mortificará em abandonar essa
escolinha atual bilíngue é que quando eu acordar no meio da madrugada pra
enxugar o xixi dela e jogar o papel na pia, ao invés de no vaso, ela nunca mais
dirá “ what a fuck, mom?”
Mas pode ser
que ela recolha o papel higiênico usado para possível análise de reciclagem. O
que também será bonitinho, além de ecopsicologicamente correto.