Dia 1 de agosto foi o dia mundial da
amamentação,
e eu vou contar a minha história pra
vocês, amigas do peito-murcho.
Tenho uma historinha linda e que se
encaixa perfeitamente no tema proposto pela nossa amiga Nívea.
Eu tinha decidido junto ao meu médico que não iria amamentar, porque como alguns sabem, eu tive problemas na
gravidez, ou antes dela. Eu sofria de uma paradinha chamada síndrome do pânico:
o terror noturno/diurno dos adultos estressados.
Uma doencinha mais ou menos que te tira
do prumo e faz você olhar no espelho e dizer que você não é você. Aí você
conclui que está louca e acredita nisso piamente. Você está louca!
Os meus sintomas começaram a aparecer
uns 4 anos antes de eu engravidar, e eu tomava remédios pesadíssimos, daqueles
pintados de preto na caixa sabe?Então não poderia engravidar, certo? Até que me
descobri grávida.
Depois da diárreia nervosa, liguei para
avisar meu então marido, mas antes de mais tudo, liguei pra avisar meu então médico
psiquiatra. Meu então medico psiquiatra me deu os entãos parabéns e uma então
recomendação, assim, em caps lock: PARE JÁ DE TOMAR SEUS REMÉDIOS.
Entrei em um então pânico de ter pânico.
Quem padece desse mal sabe, é pior que assombração.
Acatei a recomendação, ou melhor, ordem
do meu médico e joguei as drugs fora, junto com um vômito incontido de alegria
e desespero.
Os primeiros três meses foram quase
lindos, até eu ter uma crise de taquicardia enquanto comia um frango frito com
polenta. Avisei a minha família (e o restaurante inteiro) assim: ESTOU MORRENDO. SALVEM
MINHA CRIANÇA.
Era o pânico.
Passada a crise, telefonei pro médico,
implorando por remédios. E ele foi taxativo. NÃO.
Passei os 6 meses restantes
ligando para o pobre diariamente. Eu disse di-a-ri-a-men-te; chorando, e
pedindo pelo amor de Deus que me tirasse daquele redemoinho.
E ele me dizia: assim que ela nascer,
vou no hospital te levar 3 caixas de remédio embrulhadas pra presente, no dia
que ela nascer, eu prometo. Só que tem um porém, você não vai poder amamentar.
Aceitei na hora, porque meu estado era
de lamentável pra baixo.
Ela nasceu, e só pude vê-la 2 horas
depois, quando passou o efeito do dormonid ou sei lá o que que me deram.
Enfiaram aquela coisinha gosmentinha debaixo da minha asa e ela ficou
procurandodo meu peito enquanto eu cantava Amor I love you no ouvido dela, com
a voz mole.
Ela tava esfoemada e taquei o peito na
boca dela. Era melhor pra mim? Não. Era melhor pra ela? Sim.
Só que ela não conseguia sugar. Fiquei
desesperada achando que ela tava sofrendo de fome. Persisti. Meu peito sangrou,
infeccionou, ficou em carne viva e eu chorava, chorava de dor mas chorava mais
ainda de vontade de superar essa dor. Eu tirava o próprio leite e colocava num
copinho pra ela tomar, ela tomava, mas era pouco. Meu peito sangrava e ela
chorava. Eu chorava mais e insistia. Até que depois de 6 intermináveis dias,
ela pegou meu peito e mamou por longos 30 minutos. Foi a alegria misturada com
dor mais intensa que eu já senti.
Neste dia lembrei de ligar pro médico, (tinha
esquecido que eu não poderia amamentar), e ele mandou decidir: ou a amamentação
ou os remédios.
Optei por segurar o rojão, sozinha com a
minha doença latejando em cada célula do meu corpo, e me apoiar em todo aquele
amor que eu precisava e queria dar a ela.
Eu sofri, e não tem como mensurar nem
contar o quanto eu sofri, porque sofrer é uma coisa solitária. Só quem sofre
sabe o tamanho da profundeza do seu sofrimento; então besteira eu tentar
explicar aqui, mas a sensação que eu tinha era mais ou menos como se eu tivesse
que lutar de hora em hora contra um leão esfomeado para que eu e minha filha pudéssemos
sobreviver.
As noites em claro pioravam muito meu
quadro, mas eu passava por cima e pensava comigo, é so mais hoje, e eu to aqui
por ela.
Eu, Giuliana, era a última pessoa que
importava naquele momento. Era o amor que eu sentia por ela que me mantinha em
pé, me sustentava.
Avisei o médico que ao completar seis
meses de amamentação exclusiva, eu voltaria aos remédios, porque esses seis meses
seriam inteiramente dedicados a Lulu e a livre demanda de leite. Livre demanda
aqui, significou mamar de hora em hora ao longo do dia e também da noite, por 6
meses.
Acontece
que ela fez seis meses, e eu achei que ela acordaria adulta e falaria, chega de
mamar aqui. Mas não, ela não quis parar e nem eu. E decidi ir até onde ela
quisesse, afinal a atriz principal era
ela, e eu, só uma coadjuvante. E ela quis até completar 1 ano e 15 dias.
Um ano e quinze dias de livre demanda,
de peitos inchados e doídos, de conchas cheias, de sutiã com absorvente, de
peitos ao ar livre, de peitos no shopping, de esconde-esconde de peitos, de
olhares de reprovação, de olhares de aprovação, de olhares curiosos, de intenso
sofrimento psicológico, de uma luta infernal contra minha própria mente, mas
sobretudo, um ano e quinze dias de intenso e soberano amor. Que foi o que venceu
no final. O amor pela minha Lulu.
Se fosse hoje, eu faria tudo de novo e
sem pensar. Uma doençazinha de merda* não pode ser maior que o amor de uma mãe
pelo filho. Não mesmo.
PS: *Como eu já disse em outro post, a síndrome do pânico
infelizmente não é uma doençazinha de merda. Não é frescura, não é coisa de
gente fraca.
É uma dor intensa de quem
sofre mas não consegue achar o caminho da saída. É um desamparo e uma solidão sem tamanho e sem
fim.
A realidade se distorce e se
torna distante, como se você fosse expectador do próprio sonho. Você acha que
não é você. Despersonalização é um dos sintomas.
É uma doença e tem que ser
tratada como tal, com remédios e terapia. Quem tem, sabe que o sofrimento e a
luta são diários. E que um simples banho pode ser a coisa mais assustadora do
mundo. Alguns casos são leves, outros pesados. Na minha pior fase, antes da
gravidez, eu cheguei a ficar 5 dias sem sair da cama e sem comer absolutamente
nada. Perdi 6 quilos e tinha certeza que tinha perdido a lucidez. Graças ao meu
médico, Dr. Guilherme, que pacientemente me amparou, eu consegui superar a mais
punk das fase, a dos primeiros vinte dias de remédio. E graças a ele também,
que ouvia as minhas súplicas durante toda a minha gravidez, pude me segurar até
onde consegui. Voltei com os remédios 1 ano e meio depois de Lulu nascer, depois
de passar uma tarde numa maca de um pronto socorro, inconsciente.
Há 5 meses, diminui a dosagem
do remédio e tomo menos da metade da dose inicial.
Pretendo parar de tomar nos
próximos meses, ou se minha menstruação não descer ate amanhã..... BRINCADERA
GENTE.